A Evolução da Tecnologia

Tendo em conta toda a evolução a que temos assistido na área da tecnologia, o nosso grupo de trabalho resolveu criar um blogue informativo acerca da história da tecnologia, desde a invenção do fogo até à criação da famosa internet.

domingo, 31 de janeiro de 2010

1861 – Primeiro telefone (Johann Philipp Reis)


Johann Reis nasceu a 7 de Janeiro de 1834 na pequena cidade de Gelnhausen, próximo de Frankfurt, na Alemanha. O seu pai, Segismundo Reis, um padeiro de parcos recursos, era filho de judeus sefarditas portugueses oriundos da Beira Baixa que emigraram para a Alemanha nos finais do século XVIII, juntando-se inicialmente à florescente comunidade de judeus portugueses estabelecidos em Hamburgo.
Órfão de mãe aos 11 meses, Johann Philipp Reis perdeu também o pai quando tinha apenas 10 anos, sendo criado pela avó materna, uma Judia portuguesa extremamente culta e bastante religiosa. Estudante talentoso desde tenra idade, Johann Reis passava horas na biblioteca do colégio, o Instituto Hanssell, lendo tudo o que apanhava sobre as suas disciplinas favoritas: geografia, matemática, física e línguas. Um dos seus tios queria fazer dele um comerciante, profissão tradicional na família, mas Johann tinha outras aspirações. Aos poucos, pagou do seu bolso aulas privadas de matemática e física e em 1858, um ano antes de casar, aceita a posição de professor de matemática e ciências no Instituto Garnier, em Friedrichsdorf, nos arredores de Frankfurt.
O caminho que o levaria à invenção do telefone teve início acidentalmente, quando Johann Reis investigava a possível construção de uma “orelha artificial” (künstliches ohr) para aliviar a surdez – uma doença que afectava a sua avô beirã, já em idade avançada. Reis começou a trabalhar na “orelha artificial” com apenas 18 anos, em 1852. No laboratório improvisado num barracão nas traseiras da sua casa, Johann Reis construiu o seu primeiro aparelho com componentes inesperados que encontrou quase ao acaso: um violino, uma agulha de malha, uma rolha de cortiça, fio de cobre e uma salsicha. Uma pele de salsicha esticada sobre uma rolha de cortiça oca servia de microfone, unido com cera ao fio de cobre que por sua vez era ligado a uma corda do violino, que funcionada como receptor e caixa acústica. Os resultados não foram muito animadores, mas Reis não desistiu.
Dois anos mais tarde, em 1854, Johann Reis lê um interessante artigo do telegrafista francês Charles Bourseul, publicado na revista L’Illustration de Paris, no qual ele descreve a possibilidade de transmitir sons através de uma corrente eléctrica intermitente. O artigo de Bourseul concedia uma base teórica às experiências de Johann Reis, permitindo-lhe avançar com o seu projecto, ao qual deu o nome de “telefone”, cunhando pela primeira vez o termo que viria a fazer parte do vocabulário de todo o planeta nos séculos que se seguiram.
Em 1860, quase dez anos após as suas primeiras experiências, as tentativas de Johann Reis davam frutos significativos, 16 anos antes do escocês Alexandre Graham Bellreclamar a sua patente. A primeira frase transmitida pelo telefone de Reis foi “das pferd frisst keinen gurkensalat” (literalmente “o cavalo não come salada de pepino”). A demonstração pública do novo invento foi efectuada perante a Sociedade de Físicos de Frankfurt (Der Physikalische Verein) a 26 de Outubro de 1861. Na altura com apenas 27 anos de idade, Johann Philipp Reis proferiu uma palestra intitulada “Das Telefonieren Durch Galvanischen Strom” (“Telefonia Utilizando Corrente Galvânica”) e transmitiu os versos de uma canção através de um cabo de 100 metros, naquela que seria a primeira exibição pública que provava com sucesso a possibilidade teórica da conversão de variações de corrente eléctrica em ondas sonoras.
Apesar de algum sucesso relativo, o telefone de Reis estava longe de ser perfeito. Construído para converter quebras de corrente eléctrica em som, o aparelho conseguia transmitir música mas tinha dificuldades em reproduzir a voz humana. Por causa disso, a invenção ficaria conhecida na época como “telefone musical”. A palestra de Frankfurt granjeou a Johann Reis alguma fama temporária, fazendo com que modelos do seu invento fossem levados para a Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos e Rússia.
Mesmo assim, a Sociedade de Físicos de Frankfurt voltaria costas ao telefone, com parte da comunidade cientifica alemã a classifica-lo como um mero “brinquedo filosófico”. Confrontado com o antisemitismo de alguns dos membros, Reis abandona a Sociedade de Físicos de Frankfurt em 1867.
Johann Phillipp Reis, o inventor descendente de judeus portugueses, morreu vítima de tuberculose às cinco da tarde do dia 24 de Janeiro de 1874, com apenas 40 anos, sem conhecer o verdadeiro sucesso do seu trabalho mas acreditando nele até ao fim. Pouco antes de morrer, Johann Reis escreveu: “Olhando para a minha vida posso dizer, como na Torá, que tem sido ‘trabalho e sofrimento’. Mas tenho também de agradecer a Deus que me deu a Sua benção na minha carreira e na minha família, e me concedeu mais do que eu alguma vez saberia como pedir-lhe. Hashem ajudou-me até aqui; Ele irá ajudar-me daqui para a frente.”
A 22 de Março de 1876, um editorial do New York Times intitulado “The Telephone” elogiava e enaltecia Johann Phillipp Reis como inventor do novo engenho. O editorial não fazia qualquer menção a Alexander Graham Bell, que poucos meses depois receberia uma patente americana registando “melhoramentos” no telefone. Em 1878, um grupo de físicos da sociedade de Frankfurt mandou erigir um monumento a Phillipp Reis, classificando-o como “o inventor do telefone”. A paternidade do invento foi-lhe igualmente atribuída em inúmeros livros e tratados publicados por toda a Europa. Já no século XX, pelo facto de Johann Reis ser judeu, o regime nazi haveria de expurgar o seu nome dos manuais escolares alemães. Reis seria reabilitado após a Segunda Guerra Mundial, homenageado em 1952 pelo governo alemão numa colecção de selos comemorativa dos 75 anos do serviço telefónico no país – um novo selo, este com uma gravura da sua invenção, seria emitido em 1989 na RDA.
Em 1986 as cidades de Friedrichsdorf e Gelnhausen, em conjunto com a Deutschen Telekom, instituíram o Johann Philipp Reis Preis, uma bolsa anual de 10 mil euros destinada a premiar jovens cientistas que se distingam no campo das telecomunicações.